Pães confeccionados em fornos a lenha fazem crescer água na boca
A tradição ainda é o que era.
Esta é a conclusão a que se pode chegar depois de ler o artigo «O pão que lembra o passado», uma reportagem publicada no jornal Correio da Manhã. Essa peça relembra o quão saboroso era provar um pãozinho acabado de preparar nuns fornos a lenha.

A protagonista desse trabalho é Maria da Luz Marinheiro, que afirma que o cheirinho a pão cozido lhe faz lembrar outros tempos, mais propriamente a sua avó Jacinta, que estava sempre curvada sobre o forno nas sextas-feiras de manhã para confeccionar este alimento tão precioso: naquela época, um pão prolongava-se durante uma semana inteira e confortava a barriga… mesmo que não houvesse mais nada para comer.
Para Maria da Luz Marinheiro, a avó Jacinta é muito mais do que uma recordação terna.
A verdade é que foi com esta anciã que Maria aprendeu alguns truques para cozer correctamente o pão nuns fornos a lenha. Por exemplo, a avó Jacinta ensinava que a massa deve sempre descansar para que não fique «emborrachada» ou que o pão tem uma certa «tara»: afinal de contas, o alimento não pode estar nem demasiado cru, nem muito cozido. Há um ponto intermédio. É aquele que faz crescer água na boca.
Rotina começa logo às 03 da manhã
Realmente, até aos dias de hoje, Maria da Luz Marinheiro adopta os ensinamentos da avó Jacinta.
É que não houve nenhuma mudanças na forma de confeccionar o pão típico da região de Alfarim, localizada no concelho de Sesimbra. «A única coisa diferente em relação aos últimos quarenta anos é mesmo a máquina de amassar. Os segredos são os mesmos», garante a padeira.
Utilizando sempre pinho manso ou bravo, Maria da Luz garante que, em Alfarim, neste ramo, é a «mais velha a vender para fora» e a «única» a preparar o pão com «o forno assim tradicional».
Aliás, na aldeia, o seu pão é sobejamente conhecido. Quem o quer comprar em supermercados e em mercearias pergunta logo: «Tem aí o pão da Maria da Luz?».
A rotina daqueles que fazem da confecção dos pães em fornos a lenha a sua profissão é diametralmente oposta ao dia-a-dia convencional.
Vejamos o caso de Maria da Luz, que logo às três da manhã desliga o despertador e segue de imediato para o anexo no qual se localiza o forno. É sempre a mesma rotina, independentemente das estações do ano e dos dias da semana.
Do anexo, saem, por dia nos fins-de-semana de calor, cerca de 200 pães.
Porém, antes de se acender o forno, deve-se ligar a máquina que amassa a massa. Só quando esta está a levedar - durante 45 minutos - é que o forno ganha o protagonismo.